Dos 353 delegados aprovados em concurso e nomeados pelo Governo do Estado, 305 concluíram a formação; os demais seguiram outros caminhos ou desistiram da carreira. Se a evasão perdurar, até o final de 2026, a corporação poderá ter quase 4 mil policiais civis a menos. A análise é da Presidente do Sindicato dos Delegados de Polícia do Estado de São Paulo (Sindpesp) Jacqueline Valadares da Silva Alckmim. Para ela, a recente contratação de novos profissionais alivia, mas ainda não é o suficiente para recompor o déficit da instituição. Confira a entrevista.
Como a sra. avalia a contratação recente de 305 novos delegados no Estado de São Paulo?
Apesar das recentes admissões, no mês de setembro deste ano, para se ter ideia, 767 vagas para delegado estavam em aberto no Estado. As contratações, em número expressivo, são mais do que bem-vindas para a Polícia Civil. Dos 353 novos delegados nomeados, 305 concluíram o curso e foram designados para Delegacias de todo o Estado, que, aliás, há tempos estavam desfalcadas. Outros, embora nomeados, desistiram da formação para seguir diferentes caminhos, carreiras ou, até mesmo, atuar em estados que oferecem melhores condições de trabalho e remuneração.
A contratação alivia, mas ainda não é o suficiente para recompor o déficit da instituição e, principalmente, “estagnar” a perda de profissionais que deixam a função em razão dos baixos salários e da falta de plano de progressão atrativo para a carreira.
Quais os fatores que concorrem para a desistência desses profissionais?
Diversos são os fatores que concorrem para esta situação. Por exemplo: São Paulo, campeão de arrecadação de tributos, Estado mais rico do País e, também, com o maior custo de vida, é o 22º no ranking dos subsídios pagos aos seus delegados.
Pesa, ainda, para a evasão constante do quadro de Recursos Humanos da Polícia Civil, o péssimo plano de progressão na carreira. A maioria dos delegados se aposenta sem conseguir chegar à classe especial, ou seja, ao topo, após uma vida inteira dedicada à Segurança Pública. Chegou a hora de o governador de São Paulo, Tarcísio Gomes de Freitas (Republicanos), apresentar um plano de reestruturação salarial e de progressão na carreira, a fim de estimular a admissão de novos delegados e a permanência dos efetivos.
Sem isso, novas nomeações, como as dos 305 novos delegados, que ocorreram há poucos dias, serão apenas paliativas.
Qual a consequência da perda constante de profissionais?
Ela impacta diretamente na eficiência das investigações e incentiva a sensação de impunidade. A valorização dos profissionais da Polícia Civil é fundamental para atrair mais talentos, reduzir a sobrecarga dos agentes em atividade e garantir uma resposta rápida e eficaz à sociedade.
Dos 41.912 cargos em funções diversas da Polícia Civil bandeirante, apenas 27.323 estavam ocupados em setembro deste ano, resultando em 14.589 vagas em aberto.
Mesmo com a nomeação de 4.017 novos agentes em maio de 2024, a instituição segue enfrentando constante debandada de profissionais. Dois meses atrás, 132 policiais pediram baixa. Se as saídas continuarem neste ritmo, até o final de 2026 poderemos ter quase 4 mil policiais civis a menos, anulando, assim, a eficiência dos recentes concursos, treinamentos e nomeações.
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